sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Frio

Ela vinha sentindo um frio constante. Não que isso atrapalhasse, mas já era quase verão.
Vez em quando se pegava quieta, num canto, pensando em algo pra fazer que pudesse distrair, ou, pelo menos, não deixasse que as palavras ruins viessem à cabeça. Palavras que ela nem sabia se eram verdadeiras.
Não tinha considerado mal o que lhe disseram. Não tinha preconceitos, mas preferiria ter ouvido tudo aquilo por outras bocas.
Mas,muitas dessas outras bocas já começaram a tagarelar coisas também não muito interessantes.
Engraçado como as pessoas começaram a enxergá-la de um modo mais maduro. Parecia que sempre tinha sido uma criança, que brincava, não tinha responsabilidades e que quando saía arrumadinha na rua sempre recebia o comentário clichê: "Que lindinha! Já está virando uma mocinha, não?".
Acho que, por algumas vezes, ela chegou a responder mentalmente:" Não.".
Agora, com suas novas responsabilidades, tudo mudou. Ficou melhor, talvez, pior. Não dá pra saber. É uma mulher, logo, uma incógnita.
E, essa incógnita ajudou a trazer o frio pra dentro de si.
Suas dúvidas, erros, acertos, vontades, desejos e anseios começaram a vir à tona em sua cabeça e o frio a dominou. Não era motivo pra chorar, mas para começar um desespero. Era motivo pra parar e pensar no que todos os sentimentos, mesmo que ruins, estavam lhe proporcionando. Era motivo para se aceitar e continuar com a cara no muro.
Não dava pra viver pensando assim. Era arriscar e poder sair ganhando, ou nada. Sua vida começou a se resumir assim. Não em desafios, mas em sacrifícios calorosos para que o frio pudesse ir embora rápido.

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