quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Desejo

Ele morava longe, logo eles se comunicavam mais por cartas.
Poucas vezes conseguiam se encontrar, mas quando o via faíscas saíam de seus olhos. Era como se ele fosse o único ou o mais belo do mundo. Como se, realmente, não existisse mais ninguém em que ela pudesse pensar, ou desejar.
Não, não era isso tudo. Havia um desejo, sim. Mas, seu orgulho de jovem mulher a impedia de revelar todas as suas sensações.
Na verdade, acho que se ele estivesse disposto a compartilhar uma vida ao lado dela, ela abriria mão de muita coisa e iria ao encontro de seu... Seu... Homem. Não digo amado, por que ela não o ama. Não, ela não o ama. Nem ele a amava. Se amava, nunca admitiu ou, ao menos, demosntrou.
Em todas as cartas, ambos eram bem categóricos no que queriam. Eles se desejavam, sim, mas acho que era muma coisa mais carnal, mais de pele mesmo. Quem sabe isso mudasse, se eles passassem a se ver com mais frequência.
Ele era casado. Ela não se sentia mal por isso, não mesmo. Mas depois de parar pra pensar, viu que isso não a levaria a nada.
As cartas de resposta dele eram sempre mais secas que as dela. Eram sempre mais limpas, digamos assim. E, com isso, ele fazia a cabeça dela transbordar em dúvidas.
Continuar ou não? Ele quer ou não? Tinha sempre um "Ou não" depois. E isso acabava com ela, pois mesmo não o amando, o desejo era forte, a vontade de sentir o cheiro dele, de tocar suas costas era enorme. E além disso, tinha a saudade das noites que passavam juntos, trocando bobagens, olhando estrelas e outras coisas mais.
E assim, eles pararam de se ver.
As cartas continuaram por alguns meses, até o momento em que ela resolveu que não ia mais ser um objeto de desejo. Mudou sua vida. Ela tinha que ser O Desejo.

2 comentários:

  1. Nossa moça
    muito bom
    escreva um livro logo =D
    vc eh boa nisso =)
    bjs

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  2. O Desejo, aquele que procuramos a vida toda saciar, que buscamos em mil coisas encontrar. Bom esse é o indizível, o intocável, o insaciável, o inimaginável.
    Tudo isso porque O Desejo é um buraco que não conseguimos tapar, um vazio que não conseguimos preencher, ele é em suma o nada e mesmo assim o que há de mais Real em nós, A Ausência.

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